sábado, 29 de junho de 2013

Guia para pais (Algumas considerações)

De facto, eu e Fernando Santos, estamos em plena sintonia em vários aspectos do futebol juvenil.


Replico aqui um artigo que colocou no seu blog, de autoria da associação das escolas de futebol.

Blog opiniões/reflexões.
http://rumoastrolabio.blogspot.pt/2013/06/um-guia-basico-para-pais.html?spref=fb

Atrevo-me a acrescentar algumas referências pessoais que resultam da minha experiência como pai no mundo do futebol juvenil.

Colocarei a azul, para que se perceba o que é o texto original e o que são as minhas referências.





INTRODUÇÃO 

Dentro de um ambiente desportivo positivo, as crianças têm oportunidade para fazer novas amizades, aprender novas técnicas e desenvolver novos interesses. A qualidade do processo de ensino-aprendizagem desportiva da criança é ditada por pais e treinadores, onde os primeiros também são parte integral da equipa.

A atenção de qualquer programa desportivo para crianças, seja ao nível competitivo ou de recreação, deve tocar essencialmente a aprendizagem e o divertimento, para depois integrar o espírito competitivo e providenciar uma boa experiência desportiva para toda a vida. A preocupação sempre no processo, não no resultado.


Curiosamente quem anda pelos campos de futebol saber perfeitamente aquilo que vou dizer: A grande maioria dos pais estão nervosíssimos nas bancadas a roer as unhas e a fumar cigarros ansiosos por ganhar jogos. É o que querem: Ganhar jogos, e mais nada! Ou sou só eu que oiço os paizinhos a gritarem para dentro de campo, quando a equipa está a ganhar, a dizer para os miúdos jogarem devagarinho, para queimar tempo, «atira a bola para longe!», «vai devagar buscar a bola!», «calma, não tenhas pressa, estás a ganhar...»...

É verdade que a maioria desses pais, quando passa o nervozinho, 15 minutos depois de terminar o jogo, já aceitam que não deviam ter pedido para se fazer jogo manhoso...  é no calor do jogo que se deixam levar por impulsos mais baixos...

Mas também há os que se gabam nas bancadas a chamar de «tótós» os treinadores do seu próprio filho, porque não soube gerir bem a equipa para ganhar



Este capítulo está delineado para ajudar os pais que pretendem assegurar que o seu filho(a)tenha uma experiência positiva no desporto, oferecendo informação básica pertinente. Nunca se esqueça que a educação desportiva começa muito antes de chegar ao terreno de jogo, começa em casa do jovem atleta.
Aqui está uma das principais razões para o insucesso e a fraca evolução dos miúdos. Tudo começa em casa. E se, em casa, os pais dizem ao filhinho que ele é o Cristiano Ronaldo, que o treinador é um 
ignorante que não percebe nada de futebol porque não mete o seu filho a titular... obviamente que o miúdo nunca vai entrar no clube com a atitude certa.
E qual é a atitude certa? É ter a humildade de admitir que o treinador está certo e que o jogador vai ter de se esforçar muito mais para ganhar um lugar na equipa...
Pais que se gabam de saber mais de futebol do que os treinadores, normalmente são péssimos conselheiros para os miúdos.
Assim como pais que só veem os seus filhos e não têm capacidade de ver o futebol como um desporto de equipa acabam por prejudicar os miúdos: «Filho, se te passassem mais a bola, tinhamos ganho...»




COMO CRIAR UM AMBIENTE DESPORTIVO POSITIVO PARA O SEU FILHO(A) ...
  • Foque o divertimento do processo de aprendizagem desportiva. 
  • Construa auto-estima na sua criança, dando relevo aos aspetos sociais, físico e técnicos da aprendizagem, e não aos resultados desportivos. 
Aqui até acho que o problema não está tanto com os pais mas mais com os agentes desportivos ligados aos clubes. Há treinadores, professores, orientadores, diretores etc etc... que só veem os resultados.

É simples, façam o teste:
Espreitem no facebook de amigos vossos que jogam futebol. Vejam se alguém coloca um pequeno comentário do estilo, «hoje perdemos porque o adversário era superior a nós», ou «perdemos porque não estivemos bem»...
Não, não há humildade para isso!
Quando se ganha, isso sim, muita publicidade: «Somos os maiores», «somos campeões»...

Mas não,  não se ensina a lidar com o fracasso. Muitas vezes o que é ensinado aos miúdos é apenas gabarolice, (conheço algumas dessas personagens...)  é tentar arranjar um vídeo de um golo de pontapé de bicicleta para andar a mostrar a toda a gente, é esconder as derrotas, como se fosse vergonha perder jogos, é falar muito das vitórias, difundir os sucessos e fingir que não existiram fracassos...  

Quem assim orienta os miúdos está a fomentar frustrados, está a criar pessoas que não vão saber lidar com a derrota com os fracassos da vida.
Somos humanos, cometemos erros, umas vezes estamos bem, outras vezes menos bem. É da vida. Temos de saber viver com isso! 
Se com 16 anos lhes é ensinado a esconder os fracassos, a gabarem-se dos sucessos... quando forem adultos, nos seus trabalhos, serão pessoas insuportáveis, incapazes de lidar com os fracassos.

  • Otimize os princípios do fair play: respeito pelos companheiros, adversários, árbitros, regras do jogo e treinadores.
  • Acho que neste capítulo era fundamental re-orientar a formação de árbitros. Não são poucos os casos de árbitros que apitam jogos de miúdos que são a principal causa da falta de fair-play.
    refiro-me àqueles árbitros que não assinalam as faltas maldosas. Os árbitros que gostam do estilo Pedro Henriques, «deixa seguir, vale tudo!»... a dada altura os miúdos estão em campo como se estivessem numa batalha.
    Já deixaram de se divertir, deixaram de se focar no bom futebol, já só pensam em vingar-se dos agressores que lhe deram cacetada sem que o árbitro assinalasse infração.
    Sempre achei que estes árbitros, que não sabem distinguir entre o jogador maldoso e o jogador esforçado que sem querer cometeu uma falta, são árbitros que destroem toda a beleza do futebol.
    O espetáculo, o jogo bonito, tudo desaparece!
    Se repararem, os jogos com bons árbitros são excelentes jogos... Um bom árbitro fomenta o desportivismo. Sabe ler as tensões em campo. Se nota um jogador mais exaltado, vai ter com ele e pede para se acalmar... sem ser ameaçador, ou mesmo malcriado (também os há...) tenta falar com o jogador de forma que o convença que não está a agiir bem. 


  •  
  • Não construa nele/a) apenas uma identidade desportiva: existem outras também importantes. 
  • Seja o principal interessado pela participação desportiva do seu filho(a). Conhecendo as regras, presença nas reuniões, treinos e jogos. 
  • Seja um bom espectador e lembre-se que é um convidado para ver o jogo do eu filho/a). Inclui estar presente de forma positiva, reforçando positivamente e encorajando a performancdo seu jovem atleta.
    Não me parece que este seja o problema. Na verdade é grave é o oposto. Os pais normalmente incentivam os seus filhos. Isso é banal.
    O que também acontece e eu acho que é muito negativo, é quando os pais, amigos e familiares dirigem palavras para dentro de campo incentivando o individualismo. É muito comum, e é tremendamente negativo, prejudicando a equipa. Incentiva o egoísmo, o individualismo. «Marca um golo para mim filho!!!»
  • Seja cauteloso a discutir as aspirações desportivas, que podem produzir pressões desnecessárias.
    O normal é que todo o pai sonhe que o filho possa vir a despontar num grande jogador. Por mais que se diga que não, este é o padrão. Poucos verbalizarão isso, mas 98% dos pais estão mesmo à espera que o filho de um dia para o outro seja chamado a um clube grande...
    É da vida!
    Incentivar os miúdos nesse sentido é mau, porque tenderão a desvalorizar os estudos e, na verdade, essa possibilidade é mesmo mínima! Eu diria que na equipa dos nossos filhos, entre 22 miúdos, se um deles vier a ser jogador profissional já é uma sorte, mas mesmo esse terá uma probabilidade muito grande de chegar, no máximo a uma segunda divisão, para ganhar 1000 euros por mês?? Numa profissão que acaba aos 30 anos? E depois?
    A melhor estratégia, penso eu, é a de mentalizar os miúdos que é legítimo o sonho, mas que essa possibilidade é como ganhar a lotaria!  Pelo que devem ver o futebol como algo que lhes dá prazer! Nada mais que isso...


    Conteste a presença de tabaco e álcool nos eventos desportivos do seu filho/a). 
          Infelizmente, parece-me que nesta idade, de juvenis, há cada vez mais miúdos que entram na idade da parvoíce e começam a fumar. É a altura certa para atuar. Não porque prejudica a atividade desportiva, isso é óbvio e o miúdo vai sentir isso quando não tiver pulmões nos jogos, o mais grave é que pode começar aí uma prática altamente lesiva para a saúde!
Se há coisa boa em que pratiquem desporto é que adiam a entrada nesse mundo dos vícios! Não me parece que o problema esteja nos pais que fumam a ver os jogos (eu deixei de fumar, mas sei que, quando fumava, a ver os jogos é quase impossível não puxar pelo cigarrito...)
O problema está em que os miúdos se iniciem no tabaco. Expliquem-lhes que é um erro tremendo!

  • Discuta as opiniões que possuí sobre as opções do treinador longe dos jovens atletas.
    Infelizmente, não é esta a regra. A maioria dos pais acha-se melhor que o treinador e não se coibe de fazer essas apreciações à frente dos miúdos! É mau, é muito mau!
    É mais um jogador sem futuro. Não acredita no treinador, não o vai respeitar, não vai evoluir.

     
  • Reforce as instruções do treinador quando dialoga sobre a prática desportiva em casa junto do seu filho(a).
    É muito importante este aspeto. Quando o treinador corrige muitas vezes o jogador e ele chega a casa chateado: «O treino hoje correu-me mal, o treinador fartou-se de me corrigir».
    A resposta em casa tem de ser positiva: «É bom sinal. É sinal de que o treinador vê potencial em ti e está a corrigir-te o que fazes mal. É muito bom para ti, porque vais evoluir muito com esse treinador»

COMUNICAR COM O SEFILHO(A) NA COMPETIÇÃO ...
As crianças não querem ouvir que jogaram bem quando elas próprias sabem que não jogaram.
Não acuse os outro jogadores, treinadores ou árbitros como os responsáveis pelas derrotas.
Pode fazer com que a criança não assuma as suas responsabilidade, delegando-a nos companheiros de equipa ou elabore desculpas.
Nunca percebi esses pais que, depois de um jogo desastroso do filho, se viram para o miúdo à frente de toda a gente, «fizeste um grande jogo, parabéns!»... o miúdo cora de vergonha. Ele sabe que fez um mau jogo, provavelmente o treinador já lhe disse no balneário o que vai ter de corrigir... e o comentário do pai deixa-o numa posição ridícula...
Não digo que se deva atirar para baixo, mas há que ser realista, e colocar as questões nos termos certos. Já o fiz dezenas de vezes: «Safa, hoje não te saía um passe bem...  é das botas? Dormiste mal? Que se passou rapaz?»
O miúdo obviamente sabe que não lhe correu bem e vai sentir-se confortado a partilhar a sua tristeza: «Pois, não sei, estava muito vento, que treta de jogo...  não saiu nada de jeito».
E lá lhe dizemos, que não temos de estar sempre a 100%. «Há dias bons e há dias menos bons...  acontece. Para a próxima vai ser melhor».




Não diga que "este jogo não é importante", já que este poderá ser para a criança.
Encontre algo positivo na performance da criança e dialogue com ela os factos relacionados com a aprendizagem e comportamento desportivo (seja realista'), Assegure que realiza algumas desta questões:
  • Como te sentes acerca do que se passou no jogo? 
  • O que é que gostaste mais e menos no jogo? 
  • Divertiste-te? 
  • O que é que o treinador te disse acerca do jogo? 
  • O que achas da tua exibição de hoje? 


QUOBSERVAR NA PRÁTICOU NO JOGO ...
  • Os treinos estão bem organizados, plenos de variedade e com presença do objeto de interesse para a criança (bola). 
  • O treinador está atento, oferece feedbaca todos os participantes, e faz com que as crianças se sintam bem. 
  • Os treinadores têm uma comunicação clara, entusiástica e consistente. 
  • As instruções são dadas de uma forma positiva. 
  • Os treinadores encorajam as crianças e jovens a questionarem. 
  • As crianças estão contentes pela participação desportiva. 
  • É oferecida especial atenção aos valores, incluindo o respeito, responsabilidade, disciplina,cooperação, honestidade e frontal idade. 
  • A ênfase recai sobre o desenvolvimento, o esforço e o divertimento, e não somente na vitória. 
  • O treinador comunica positivamente com os pais. 
  • O treinador tem um comportamento apropriado.
    Fundamental corrigir comportamentos de miúdos mimados, amuos, manias, atitudes arrogantes, falta de respeito para com o treinador.
    Se o miúdo foi malcriado com o treinador, ou desrespeitou uma ordem, é fundamental que os pais intervenham e façam o miúdo perceber que cometeu um erro muito grave.
    O normal é os paizinhos pedirem para falar com o treinador porque acham que o castigo aplicado ao filho (normalmente o castigo é não ser convocado para o jogo) é injusto. Normalmente não têm razão. Normalmente o argumento é absurdo: «Ah, mas na semana passada também houve outro miúdo que teve esta ou aquela atitude e não foi castigado! Acho mal ser só ao meu filho»
    É péssimo!
    O miúdo vai sentir o apoio dos pais, vai continuar a cometer erros, atitudes erradas, o treinador vai fartar-se de aturar meninos e pais mimados... é a receita para o desastre!
    Normalmente a história termina com os pais a ameaçarem sair do clube... e se cumprem a ameaça, vão voltar a ter o mesmo problema no outro clube, provavelmente mais rápido, porque no outro clube não se conhece tão bem o jovem a tolerância é menor...  e vão saltando de clube em clube!
    A dada altura as pessoas perguntam: «E agora, para que clube vai?»... pois, já correu todos...
    Jogadores que mudam de clube todos os anos... normalmente é mau sinal!



Texto da Associação Portuguesa de Escolas de Futebol



NOTAS FINAIS:

Acho este texto muito importante, porque de facto estão aqui algumas das principais orientações para o sucesso do envolvimento dos pais na atividade futebolística dos filhos.
É curioso como, lendo estas dicas, relembrei e identifiquei tantos e tantos comportamentos errados dos pais.

É inacreditável!
O mais incrível é que essas pessoas que cometem esses erros acham-se os senhores da verdade. E continuam a dizer de boca cheia que os treinadores é que não prestam...


Posso invocar aqui vários exemplos:

«Como é que este treinador mete o meu filho, que é titular, de parte nos exercícios e deixa no treino miúdos que nem sequer estão inscritos. Qual é a racionalidade disto? O tipo não percebe nada disto... é um sapateiro...».
Resmungava um pai nas bancadas porque num exercício em que os grupos tinham número par, e sobrava um miúdo, que calhou ser o seu filho. 

20 segundo despois saía outro jogador qualquer e o filho integrava o grupo. O paizinho lá se calou... 
Não têm a noção do ridículo!

E quando o treinador acha que o miúdo dá um bom defesa numa posição, mas o paizinho imbicou que o filho tem de ter outra posição. .  e não é que em pleno jogo o miúdo vai ao banco dizer ao treinador que não quer jogar na posição indicada pelo mister...  Obviamente foi para o banco e não jogou mais! Quem é que ganhou com isto? Ninguém... o treinador perdeu um bom Defesa o miúdo não jogou e o paizinho provavelmente continuou a dizer cobras e lagartos do treinador...

«O meu filho está doente, está com uma gripe enorme, mas quis vir... diz que tinha de vir jogar»...
Que raio, o miúdo está doente, o pai leva o filho para o jogo oficial e o treinador sabendo disso mesmo assim mete o miúdo a titular?  Obviamente fez um jogo miserável... mais uma vez, todos agiram mal, todos perderam com a decisão!  Desde logo o pai, inconsciente! Um miúdo doente deve estar a tratar-se em casa!



«Mister, hoje não me apetece treinar».
Bem, como é a estrela da companhia, nada acontece! O miúdo vai-se embora, chega a domingo é titular...  péssimo exemplo do miúdo, má decisão do treinador! Não há jogadores insubstituíveis. Mesmo as estrelas têm de ser castigadas sob pena de prejudicar todo o grupo!



«Mister, vou para o banho, acho que me aleijei...»
Jogadores que sistematicamente, treino após treino, alegam que se aleijaram para sair mais cedo, depois de verem um sinal do pai cá fora a dizer «anda lá embora pá, deixa lá isso que esse treino não presta para nada!!!»... uma vingançazinha porque supostamente o pai não gostou das decisões na convocatória do treinador aos fins de semana... 

Péssimos exemplos que se dão aos miúdos. Um dia quando trabalhar também se vai pirar mais cedo, inventando uma desculpa qualquer... «chefe, a minha mulher está no hospital, tenho que ir...»  simplesmente porque não concordou com uma decisão profissional do superior hierárquico!
Até o dia em que descobrem que mentiu ao chefe e é despedido!
Ah pois é...
É que muita gente pensa que o futebol é só a ganancia de o filho ser titular. É a ganancia da vitória. É o sonho de vir a ser jogador de futebol. 

Mas não!
Há muito mais!

Atenção que não é só isso que se passa ali nos treinos e jogos.
Há regras, há disciplina, há valores, há princípios, há saber trabalhar em equipa, há saber respeitar os colegas, há espírito de sacrifício, há muitos ensinamentos de cidadania que se aprendem no futebol.

Quando os pais ensinam truquezinhos manhosos aos filhos, pensando que aquilo são só coisas do futebol. Na verdade, o que estão a fazer é a ensinar aos miúdos que na vida vale tudo. Vale aldrabice, vale truques, vale manha... Um dia nas suas profissões os miúdos terão esses valores! 

É triste, mas é assim!
Muitos pais não percebem isso... aquilo não é só o mundo do futebol.
Aquilo ali é uma escola em que os miúdos aprendem muita coisa que lhes vai ser útil para toda a vida.! O bom e o mau...
Aprender ali maus valores... vai ter consequências mais tarde!






Bem... há tantas e tantas histórias que eu podia contar aqui... mas enfim!


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